Em redor de Mértola, o Alentejo faz-se de pastagens verdejantes pintalgadas por margaridas e aldeias remotas, onde a tradição, por um fio, teima em ser o que sempre foi. Uma das regiões mais belas do país, a visitar enquanto é tempo …
Cada vez menos habitado e mais tranquilo, o Baixo Alentejo oferece a quem vem das grandes cidades paisagens terrivelmente belas e remotas, onde só o silêncio parece ter ganho lugar. Algumas povoações – poucas – sobrevivem da pastorícia e da vontade dos residentes em preservar um modo de vida em desuso.
Mas, quilómetros e quilómetros de campos ondulantes abandonados às florzinhas primaveris são o rosto da evidente desertificação da região.
Mértola, vila encravada entre as serras, o Guadiana e a ribeira de Oeiras são, neste contexto, um pequeno oásis de prosperidade – miragem de vida no coração de um Portugal quase desaparecido, em claro contraste com os campos e aldeias em redor.
Dia 1 | 92 km
Mértola á S. Miguel do Pinheiro á Pulo do Lobo á Mina de São Domingos
Mértola, vila-museu sobranceira ao Guadiana, é o nosso ponto de partida. Com as suas ruas engalanadas de laranjeiras e casinhas rasteiras caiadas, com vista para o rio, esconde na pacatez do quotidiano um passado grandioso. Mencionada por geógrafos da Antiguidade, foi palco de transacções entre fenícios e cartagineses. Após a invasão romana, tornou-se uma das quatro municipia da Lusitânia, mas acolheu, ainda, os suevos e os visigodos.
Um dos maiores marcos da sua História foi, no entanto, a invasão árabe, em 712 – que lhe garantiu o estatuto de importante centro de escoamento de cereais e minerais no Mediterrâneo –, de que guarda, ainda, vestígios incontornáveis (em memória desses tempos é realizado de dois em dois anos o Festival Islâmico, estando o próximo previsto para Maio de próximo).
Entre os lugares mais aprazíveis de Mértola conta-se o castelo, monumento nacional, construído sobre estruturas árabes, após a reconquista cristã em 1238. Mesmo ao lado, desenrolam-se escavações arqueológicas reveladoras da ocupação romana e árabe da cidadela.
Um pouco mais abaixo fica a invulgar – dada a sua estrutura quase quadrangular – Igreja Matriz, de origens mouras. Refeita na segunda metade do século XII, conserva da sua estrutura inicial o mirhab (altar árabe voltado a nascente) e as portas com arcos em ferradura.
Tranquila, mas cheia de vida, esta vila é cada vez menos um lugar abandonado, habitado por reformados. Esta contradição perante as tendências da desertificação actual é reflexo do esforço da Câmara Municipal e do arqueólogo Cláudio Torres, que, nos anos setenta do século XX, não só deram início à primeira escavação contínua da arqueologia portuguesa, como recuperaram muitas das tradições da região, assim como o seu património histórico edificado. Desde aí que não faltam atracções – museus, centros de artesanato, restaurantes – para entreter tanto os velhos como os novos residentes e um número crescente de viajantes.
Continuando a descer, em direcção às muralhas, passa-se por um pitoresco atelier de joalharia contemporânea de inspiração muçulmana, lugar de compras seguras, mas aberto a horas incertas. Mais à frente encontram-se o Núcleo de Arte Islâmica, onde estão expostas peças de osso e metal, objectos de adorno e utensílios domésticos encontrados na região, e o Núcleo de Arte Sacra, com imagens e alfaias litúrgicas recolhidas pelo concelho (todos este núcleos museológicos e ainda a Basílica paleocristã e a Casa Romana podem ser visitados com um bilhete único, no valor de €5).
Para concluir o passeio passe pelo Centro de Tecelagem, onde quatro artesãs fiam lã e tecem meias, panos e belíssimas mantas, de acordo com a tradição herdada dos árabes (provavelmente as únicas no concelho a fazê-lo). A maioria das peças em exposição encontra-se à venda, por isso aproveite...
Calcorreado o burgo, partimos rumo às serranias, mais precisamente à povoação de S. Miguel do Pinheiro, para conhecer o processo de moagem da farinha. As visitas ao moinho de vento recuperado e integrado no Circuito do Pão devem ser marcadas com antecedência com a Junta de Freguesia.
Toma-se, então, a estrada que vai para Almodôvar, ao longo da qual apenas nos cruzámos com um pastor e dois automóveis tresmalhados.
Os montes agrícolas estão agora abandonados e, não fosse a beleza dos prados em vestes primaveris, experimentaríamos uma estranha sensação de desolação.
Voltando à esquerda para Alcaria Longa, seguimos as indicações e eis-nos na aldeia, onde, a julgar pelos moinhos em ruínas, um dia já se fez muito pão – delicioso como só no Alentejo. Por isso mesmo, e após conhecer os mistérios que levam o grão de trigo a transformar-se em pó, sugerimos que procure Manuela Bonito, uma jovem que optou por ficar na sua aldeia de origem, e que todas as sextas e domingos retira do seu forno a lenha o pão e as “costas” (doce tradicional de massa lêveda) mais cobiçados das redondezas.
Com o lanche no porta-bagagens, prossiga para o Pulo do Lobo, regressando a Mértola, pelo mesmo caminho. Tome a estrada que vai para Beja e volte para Corte Gafo de Cima (também pode comprar aqui, ao sábado, pão caseiro na casa de D. Climena), em direcção à Amendoeira, onde termina a estrada de alcatrão. O percurso a partir deste lugar é feito por um caminho de terra batida, rodeado por pastos e olivais, ao longo de 10 quilómetros. Avança-se a passo de caracol e a expectativa face ao local que – segundo se conta – os lobos e contrabandistas utilizavam para, de um só salto, atravessar as margens do Guadiana não pára de aumentar.
É o marulhar vibrante das águas, relaxante e assustador, que mais impressiona à medida que nos aproximamos do rio. Obrigado a passar por um estreito de três metros de largura, devido a um estrangulamento geológico natural, o Guadiana salta apressado sobre uma cascata com 15 metros de altura, para formar uma lagoa natural mais à frente. O terreno, rochoso e acidentado, oferece duas plataformas artificiais, eleitas como um pouso seguro para assistir à fúria das águas. E assim ficamos até que o fresco da noite nos faça recolher à Estalagem de São Domingos.
Dia 2 | 51 km
Minas de São Domingos á Pomarão á Alcoutim
O dia amanhece em São Domingos sereno e soalheiro, como se quer em pleno Baixo Alentejo. No Verão, a praia fluvial – classificada pela DECO como uma das melhores do país – até pode atrair centenas de veraneantes, mas, até Junho, só as cigarras se fazem ouvir. Deixamos, relutantes, a piscina, a biblioteca centenária e o salão de jogos da Estalagem de São Domingos, onde pernoitámos, para partir à descoberta da aldeia vizinha e da mina que lhe deu razão de ser, há cerca de dois séculos, entretanto desactivada (1862-1967).
A povoação é composta por uma igreja e algumas fileiras de casas caiadas pequeninas. Um court de ténis, um jardim e um coreto testemunham a presença dos britânicos, incapazes de abdicar do seu estilo de vida, mesmo neste fim de mundo.
A mina, cerca de um quilómetro à frente, por seu lado, evoca uma paisagem lunar de fazer inveja a qualquer cenário de Spielberg ou George Lucas. O esqueleto da que foi um dia uma das mais importantes explorações de minério da Península Ibérica está agora abandonado à curiosidade de um ou outro viajante solitário e às cegonhas. Sinistro e enigmático, este lugar é também fascinante por guardar em silêncio as histórias, muitas vezes dramáticas, dos milhares de homens que arrancavam à serra toneladas de minério, escoado através do Guadiana.
Testemunhos dessa mesma época podem ser observados cerca de 18 quilómetros a sul, no Pomarão, onde chegavam os vagões carregados de pirite, vindos de São Domingos, para serem descarregados em grandes navios.
A povoação, pouco mais que uma rua, é o primeiro vestígio desse tempo. O segundo consiste nos restos dos carris que atravessavam a montanha num desafio, então único no Velho Continente. Actualmente, o Pomarão mantém-se vivo por ser o último ponto navegável do Guadiana, servindo de porto para alguns iates e pequenos cruzeiros. Todos os meses de Março é também cenário do Festival do Peixe – um verdadeiro festim para os apreciadores das caldeiradas de peixe do rio, de que a lampreia é rainha.
A partir daqui seguimos o Guadiana, rumo a Sul, retomando a N122, para, em cerca de trinta minutos, alcançarmos a vila algarvia de Alcoutim. Conquistada aos muçulmanos em 1240, dois anos após Mértola, a povoação, com as suas ruazinhas estreitas e casario caiado pontilhado por vasos floridos, tem no castelo quatrocentista a sua principal atracção. Classificado como Imóvel de Interesse Público, o edifício recentemente restaurado acolhe uma loja de artesanato e o Núcleo Museológico de Arqueologia, além de proporcionar uma vista soberba sobre a localidade espanhola de San Lucar e o rio.
De resto, é de assinalar o interesse arquitectónico das suas várias igrejas, algumas das quais elevadas sobre antigas mesquitas. A de Nossa Senhora da Conceição merece visita atenta, pois guarda o Núcleo Museológico de Arte Sacra, enquanto a Igreja Matriz, quase junto ao rio, é um dos melhores exemplares do Primeiro Renascimento no Algarve.
O que não deverá perder, de forma alguma, é o cair do dia à beira-rio, enquanto petisca numa das muitas esplanadas ribeirinhas, ou, então, uma pequena viagem até à outra margem, numa das embarcações que cruzam diariamente o Guadiana.
Itinerário.
Dia 1 | 92 km
Mértola á S. Miguel do Pinheiro á Pulo do Lobo á Minas de São Domingos
À saída de Mértola, tome a N267 por 22 km. Volte à esquerda na indicação de Alcaria Longa e, cerca de 1 km à frente, encontrará S. Miguel do Pinheiro.
De volta a Mértola, faça o mesmo percurso. Aí chegado, siga em direcção a Beja pela N122 e volte à direita na indicação de Corte Gafo de Cima, rumo à Amendoeira.
A partir daí siga as placas indicativas do Pulo do Lobo (o acesso pode também ser feito pela estrada de Serpa, mas desse lado terá de deixar o carro bastante longe da margem).
Regresse a Mértola. Tome a estrada de Serpa, a N265, e siga sempre em frente. Cerca de 18 km mais à frente encontra a aldeia de S. Domingos. Para chegar à Mina tem de voltar
à direita na rua principal. Os vestígios da exploração de pirite ficam cerca de um quilómetro à direita.
Dia 2 | 51 km
Minas de São Domingos á Pomarão á Alcoutim
Tome novamente a N265 por cerca de 6 km, e volte à esquerda na EM514. Siga sempre em frente. Passados 12 km chegará ao Pomarão.
Para Alcoutim, siga em direcção a Mesquita pela EM514. Cerca de 2,5 km após ter passado por esta povoação, volte à esquerda para apanhar a N122. Após ter passado por Santa Marta, volte na quarta saída à esquerda em direcção a Alcoutim, que dista cerca de 5 km.
... haverá na Europa algum espelho de água artificial maior do que o Alqueva? Não há, e também não deverão existir muito...
Este blog é um espaço de análise e opinião. Da minha análise sobre factos e coisas do dia a dia, e da opinião que à cerca delas vou construindo. Sobre o que escrevo, muitos dos que me lerem Estarão de acordo e muitos outros discordarão. Não há mal nenhum nisso. Assim uns e outros saibam Respeitar uma opinião contraria.Antonio Casteleiro Font>
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